sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A mesma velha história

O "poderoso", "maioral" e "chefão", Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e Jérome Valcke, secretário geral da Fifa, parecem viver uma intensa relação de cumplicidade.

O sorriso de ambos não esconde tamanha felicidade pelo projeto da próxima Copa do Mundo que acontecerá no Brasil, em 2014 (A foto não me deixa mentir).

Tudo isso porque Ricardo, com sua cúpula que conta inclusive com Marco Polo Del Nero, presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), conseguiu criar uma forma de acabar com "seu" problema.

E qual seria esse problema? Talvez você entenda meu raciocínio.

O Brasil é um país no qual o futebol está embutido no sangue de cada cidadão. Em cada canto há um estádio de futebol, mesmo que com alguns problemas a serem resolvidos.

Por questões até de infraestrutura, a capital de São Paulo não poderia jamais ficar fora do evento esportivo mais importante do Mundo, a Copa. E a abertura da competição é motivo de honra ao Estado considerado a maior economia do País.

Sendo assim, A CBF tinha algumas cartas na manga para oferecer à Fifa: O Palestra Itália, que mesmo passando por reformas seria pequeno demais e não atenderia as exigências da Fifa para sediar a abertura; o Pacaembu, um estádio Municipal e que possui a mesma dificuldade do estádio do Palmeiras; e por último o Morumbi, que não é lá essas coisas, mas que poderia atender às necessidades de uma Copa sem nenhuma dúvida, desde que uma reforma acontecesse de imediato.

O São Paulo Futebol Clube, proprietário do estádio, se prontificou a reformar o Morumbi para que as exigências fossem supridas e assim o Estado de São Paulo realizaria seu sonho de ter uma abertura de Copa do Mundo.

Pois aí começou o drama.

De repente, Ricardo Teixeira lembrou que há pouco tempo o São Paulo Futebol Clube, representado pelo presidente Juvenal Juvêncio, tomou uma atitude que jamais um clube de futebol teve peito para tomar: Bater de frente com a CBF e com o "chefão".

Como assim um simples presidente de clube resolve romper relações morais e se voltar contra o "grande maioral" (sim, é um pleonasmo) do futebol mais importante do mundo?

Pois isso aconteceu. E Juvenal Juvêncio manteve, e ainda mantém, sua postura de não recuar. Devido há algumas atitudes inconvenientes por parte do "maioral" e sua entidade, houve um momento em que o São Paulo cogitou deixar o Campeonato Brasileiro. Mas isso não seria nada interessante para os cofres da CBF, já que há muito dinheiro envolvido por patrocinadores e pela própria televisão que praticamente manda no futebol.

Além disso, o São Paulo foi um dos que, nas votações para a presidência do Clube dos 13, votou na chapa de oposição ao que Ricardo Teixeira apoiava. E realmente a chapa do "chefão" perdeu. O problema é que muito dos que votaram contra, hoje tiveram de pedir a benção do "poderoso". O São Paulo, por ter independência financeira e se manter com suas próprias pernas, além de ter dignidade, manteve sua postura.

Mas o tempo passou e o troco de Ricardo Teixeira veio com a história da Copa. Ele conseguiu dar um jeito de tirar o Morumbi da parada. Mais de cinco relatórios de mudanças no projeto "Morumbi 2014" foram enviados à Fifa e, consequentemente reprovados.

O São Paulo teria de pegar emprestado com o BNDES uma quantia alta para financiar as obras, mas a recusa foi imediata. Segundo agentes do banco, o tricolor não tinha garantias suficuentes para a negociação acontecer.

A CBF pulou de alegria. Sem estádio, o jeito seria construir um novo utilizando um dinheiro que sabe lá de onde viria.

Aí vem a parte mais curiosa, irônica ou engraçada. Avalie e considere como quiser.

Em uma partida entre São Paulo e Corinthians, que aconteceu no estádio do Morumbi, em 2009, e que o mando pertencia ao São Paulo, a diretoria tricolor resolveu seguir o que a regra lhe permitia. Oferecer apenas 10% dos ingressos ao visitante, no caso o Corinthians.

O presidente do timão, Andrés Sanches, ficou revoltado e jurou uma eterna briga com o tricolor. Jurou também que não mais pisaria no solo são-paulino, a não ser quando o mando fosse do dono da casa, no qual seria obrigado a jogar.

Pois bem. Irritados com o São Paulo, e com motivos de sobra para um plano mirabolante, os presidentes da CBF e do Corinthians uniram o útil ao agradável. No mais vulgar das expressões, "juntaram a fome com a vontade de comer".

O timão tem 100 anos de história e é gozado por torcedores rivais por não ter um estádio. E a CBF, por sua vez, estava definitivamente disposta a "não ajudar" o São Paulo, seja lá qual fosse o problema. Foi assim que a cúpula ganhou um novo integrante, e dessa vez com um "peso popular".

De repente, Andrés Sanches ganhou até um pequeno cargo na CBF. Foi um dos integrantes da comissão dos cartolas que acompanhou a seleção Brasileira na última Copa do Mundo, na África do Sul.

Depois disso, Andrés recebeu a melhor notícia de sua vida: O Corinthians, enfim, teria um estádio para se gabar e não mais depender do São Paulo ou do Pacaembu, considerado por muitos torcedores, a casa corintiana. De onde virá o dinheiro para o estádio ser erguido? Boa pergunta.

Não bastasse a boa notícia, a alegria maior ainda estava por vir. Esse estádio, batizado como "Itaquerão", até mesmo porque será no bairro de Itaquera, zona leste de São Paulo e que melhor se identifica com o clube do povão, foi anunciado que será também a arena que proporcionará a abertura da Copa de 2014. Que beleza!

Preciso concluir?

Mas, segundo notícias de um programa da rádio Jovem Pam, o Esporte em Discussão, comandado pelo jornalista Wanderley Nogueira, o local onde será construído o estádio do timão foi vetado, temporariamente, pelo Ministério Público por haver algumas irregularidades no terreno.

Dessa mesma forma aconteceu com o Piritubão que seria a primeira opção de construção de estádio em São Paulo para atuar no lugar do vetado Morumbi, mas ele também não pôde ser levado adiante por conter um solo contaminado e que para recuperá-lo estrapolaria o prazo estipulado pela Fifa para as obras ficarem prontas. Assim foi descartado.

E aí fica a pergunta: Se por acaso o "Itaquerão" não vingar, o que acho muito difícil já que muitas forças políticas estão envolvidas, como ficará o Estado de São Paulo nesta questão? Ficará fora da Copa? ou será que Corinthians, FPF e CBF terão de engolir o estádio do Morumbi que, como já falei, não é lá essas coisas, mas é o que temos e que pode ser melhorado?

A verdade é que essa situação só denigre a imagem do Brasil. A politicagem perdeu, de fato, a vergonha na cara. E é por isso que o Brasil é sempre mal falado e mal visto aos olhos estrangeiros.

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