domingo, 29 de novembro de 2009

Seleção Brasileira de 1982

Estive olhando, como sempre, o blog do meu professor/jornalista, chefe e, acima de tudo, amigo Wagner Belmonte e me deparei com um texto muito bacana sobre a seleção maravilhosa de 1982, na qual eu ainda nem tinha nascido para sequer dizer qualquer coisa.

Pelo grau de minha amizade com Belmonte, resolvi reproduzir seu texto no meu blog sem ao menos pedir sua autorização. Tenho certeza de que ele jamais ficará irritado com tal atitude.

Veja o texto antes de assistir ao vídeo que, ao meu ver, retrata a grandiosidade do futebol que não existe mais. O futebol mais "arte" que já existiu no nosso país e no mundo.



Por Wagner Belmonte

Volto a escrever sobre futebol.

Desta vez, prometo, não é para provocar tricolores, comemorar derrotas do Corinthians ou embarcar no bonde do Flamengo, na última hora.

Um amigo, o Bernardo, acaba de me mostrar um vídeo EMOCIONANTE que está no youtube sobre a seleção de 82.

Há um tempo, um ex-aluno da Unisa, Paulo Castelli, me pediu para explicar melhor aquilo que eu havia dito sobre a derrota dessa equipe para a Itália, no Sarriá, que não existe mais.

Eu tinha dito, para quem não leu ou para quem não lembra, que aquela derrota consagrou aquele time. E talvez o tenha consagrado mais ainda. Vi José Trajano e Antero Greco, que são jornalistas que respeito e admiro muito, falarem exaustivamente aquilo que entoo agora: essa derrota realmente consagrou aquele time (não se usa três vezes o mesmo verbo no mesmo parágrafo, como fiz agora com consagrou).

A seleção de 82, se tudo tivesse saído como o script óbvio sinalizava, teria sido, com sobra, campeã do mundo, mas Nélson Rodrigues ensina que o óbvio não faz parte do futebol e que isso é bom... Esse enredo de uma dor inesperada, inimaginada, dá magia ao futebol...

Comparam-na à Hugria de 54, que, claro, não vi, mas que ganhou de 8 da Alemanha, a mesma Alemanha que seria, naquela Copa, campeã.

Comparam-na à Holanda, bi-vice em 74 e 78, tendo jogado muito mais em 74 no chamado Carrossel Holandês.

São heresias essas analogias. Em 54, mesmo que tivesse nascido, eu não teria visto a Copa: a tv não era realidade no Brasil; ela se populariza apenas no início dos anos 70. E a seleção holandesa de 74 praticou, na minha opinião, o futebol mais brasileiro já visto numa equipe europeia.

A seleção de 82 foi incomparável, única. Foi o time que mais trouxe o que o brasileiro tem e o diferencia no futebol, no modo de ser, na vida, na filosofia cotidiana: versatilidade. Some-se a isso a genialidade de um time praticamente sem pontos fracos. Talvez não precisemos apenas de força. E talvez esse seja o aprendizado trazido por aquela dor. Talvez precisemos apenas de versatilidade e não temos, também talvez, o direito de substituir a versatilidade pela força... Mas se aquela era uma equipe tão versátil, por que perdemos?

Falam do goleiro do São Paulo, Valdir Peres, que foi titular daquela equipe. Falam de Serginho Chulapa, como pontos que destoavam, num elenco altamente técnico, com toque de bola rápido e refinado. Mas o fato é que o time sobrava em campo. Dava, para desespero de Guy Debord, sucessivas e recorrentes demonstrações que nem tudo é caos na Sociedade do Espetáculo.

Em 82, eu tinha módicos 13 anos. O presidente era o General João Batista de Oliviera Figueiredo. O nó da repressão política começava a ser desatado. O restabelecimento do plurapartidarismo permitiu a criação de um novo espectro político em todo o País e trouxe ventos de abertura. Não lembro o nome do ministro da Fazenda. Não sei qual era a taxa de inflação. Não sei como vivia a classe média. Lembro-me de um conflito bélico entre Argentina e Inglaterra pelas Malvinas. E lembro, principalmente, que aquele time deixa uma saudade, um vazio mesmo, uma lacuna que o futebol moderno não preenche.

Sim, os tempos mudaram. Na sexta-feira, na Fapcom, logo cedo, conversava com um outro amigo, o Ary, que é professor, torcedor do São Paulo e estudioso da relação esporte e mídia.

No ano passado, ele conduziu um trabalho sobre a forma distinta como a mídia trata Michael Phelps e Usain Bolt. Claro que o recorte foi a Olimpíada de Pequim. Phelps, que depois admitiu ter fumado maconha e perdeu alguns de seus patrocinadores, foi tachado de heroi, de "o homem quebra-recorde". Bolt, jamaicano, de irreverente e porra-louca. Em comum, o fato de ambos serem vencedores, mas a ideologização da abordagem é evidente.

Claro que os tempos, voltando ao futebol, mudaram. Ainda com o Ary, na manhã de sexta, disse a ele que preciso procurar urgentemente um bom psiquiatra. Achei muito bem feito, interessante, bem editado, bem angulado e emocionante o especial Por Toda a Minha Vida, da noite anterior. O tema? Claudinho e Buchecha. Claro que quando conheci a música de Claudinho e Buchecha fiquei intrigado com o nome da dupla. Claudinho e Bochecha, com o, o de ovo. Enfim, essas exigências tornam o mundo mais cartesiano, mais cheio de axiomas. Mas nunca imaginei que me emocionaria com a história de Claudinho e Buchecha. Há traços de poesia em mudar a última palavra do último verso de Tempos Modernos, como eles fizeram. "Vamos viver tudo que há pra viver. Vamos nos divertir". O próprio Lulu Santos se emocionou com uma "cirurgia" tão simples na letra da música dele.

Esse texto é inconclusivo mesmo. A seleção de 82 marcou minha infância, minha adolescência e me marca, profundamente, hoje, aos 40. Haverá de me marcar com 70.

Telê, mineiro de Itabirito. Telê, ex-jogador do Fluminense. Telê, o melhor técnico que o São Paulo e o futebol brasileiro já viram.

Hoje, domingo, Bernardo, que é mineiro como Telê, torcerá pelo seu time de coração, o Flamengo.

O Flamengo foi o grande time brasileiro da década de 80. Enquanto isso, Ary torcerá pelo São Paulo, o grande time brasileiro das décadas de 90 e da primeira década deste novo século. Paulo, corintiano, torcerá pelo Corinthians, religião dele. Tudo parece tão remoto, tão desconexo, mas há proximidade.

Um flamenguista. Um sãopaulino. E ambos viveram, sem que nunca tivessem se conhecido, o mesmo drama que foi a Copa de 82. Pensando bem, a Copa de 82 é um romance, algo realmente inesquecível.

http://wagnerbelmonte.blogspot.com


O vídeo abaixo mostra o que se discutiu aqui, brevemente.


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